sábado, 17 de janeiro de 2015

contra o aumento das passagens e a violência policial: um relato do último ato e a necessidade de enfrentar o sistema!

o último ato contra o aumento das passagens deixou mais explícito ainda pra mim que ou enfrentamos o sistema como um todo ou não tem alternativa. não dá pra tirar as catracas da vida se só debatemos a questão do transporte. deixou também mais explícita a importância da organização coletiva e dos valores de solidariedade que construímos cotidianamente.
o ato começou com uma assembleia para definir seu trajeto. é resposta à necessidade de tornar os atos mais democráticos, mais horizontais, mais participativos. acho essa necessidade extremamente válida (porque eu hoje mal consigo suportar atos com homens brancos e velhos discursando seus discursos de ódio), mas tenho questões em relação à forma (e por vezes à determinados conteúdos) como o MPL dirige os atos e o processo.
uma das divergências foi apresentada durante a assembleia do trajeto. nós do levante propusemos um trajeto diferente do proposto pelo MPL. na proposta deles, o ato descia pela consolação e se dividia no anhangabaú para cercar a prefeitura. na nossa proposta, o ato descia a consolação, passava pela prefeitura e terminava na secretaria estadual de transportes, ali no centro.
a proposta que apresentamos foi vitoriosa e assim fomos com o ato. nossa opção foi ficar do meio para o fim do ato, com nossa batucada animando. não temos muita paciência para disputar a frente do ato, ficar numa guerra para fazer nossa bandeira ou nossa cara aparecer na foto. sem fetiches fomos fazer nossa parte: animar, politizar e construir um espaço de relações mais coletivas, mais companheiras, mais organizadas.
durante o trajeto (antes do ato ser implodido em frente à prefeitura) por três vezes a PM jogou algumas bombas em parte do trajeto. com nossa caixa de som conseguimos organizar nossa mulekada e seguir firmes, cantando, sem baixar a cabeça nem recuar. aprendendo que temos o direito de ocupar a rua. e que a PM pode até jogar gás, mas não vai nos separar.
a cada ataque da PM parecia que a gente tinha certeza que nossa luta fazia sentido. "ela é injusta, ela é racista, ela mata, ela é a polícia. é militar, gcm e civil. recebe ordem do estado pra matar com o fuzil". a cada gás e a cada PM violento a gente tinha mais garra. "não acabou. tem que acabar. eu quero o fim da polícia militar".
e a gente até tentou brincar. "não adianta mais. tô viciada na porra desse gás" a gente cantava pra tentar rir da tragédia. mas o fato é que na hora que o gás começava a ser gás demais (na recuada final em determinado momento me vi cercada por 6 bombas de gás) o efeito é assustador. suas vias aéreas se fecham e você não consegue respirar. o olho arde muito, e assusta. você não vê nada direito, tá tudo branco. e não ouve direito, porque o barulho daquelas merdas explodindo deixa seu ouvido com um "piiiiiii" eterno.
voltamos a pé para o qg do levante. pessoas que conhecemos no caminho nos acompanharam, se sentindo mais seguras com o coletivo. a nossa forma de organização, em células nos locais, permite que a gente saiba com muita rapidez que todos que foram para o ato estão bem. e ativar advogados, avisar a família e todas essas coisas importantes. a gente se cuida coletivamente. a gente se organiza. é como se todos fossem manos e manas. todos família. todos parceiros. todos aliados.
juntamos toda a galera no qg e fizemos uma avaliação do ato.
algumas conclusões:
não foi por acaso que a PM fez merda na frente da prefeitura. os cães de guarda do alckmin queriam proteger o patrão. as fotos da violência policial com a prefeitura ao fundo só fazem destruir a imagem do haddad... enquanto a do alckmin segue inabalada. alckmin é invisível e transparente. ele nunca aparece como responsável por nada. e olha: não tô tirando responsabilidade nenhuma do haddad pelo aumento... mas o transporte coletivo da prefeitura avançou mais nos 2 anos haddad do que nos últimos 10 anos de administração tucana. o metrô (que é o único meio de transporte que pode de fato tirar a cidade do caos) é uma vergonha. o metrô não cresce. a corrupção é assustadora. e o alckmin ileso. a água acabando e alckmin ileso. a pm mata três por dia e trata manifestante violentamente e alckmin ileso. e agora o alckmin acabou de AUMENTAR O PRÓPRIO SALÁRIO e ninguém fala disso.
não adianta: não vai ter vida sem catraca enquanto não tirar as catracas da grande imprensa. enquanto não tirar as catracas do sistema político.
hoje só tem espaço na política quem negocia com empresário. só tem espaço na política quem tem grana. quem aceita acordos bizarros. quem faz vita grossa pra violência policial.
e se a gente não pode entrar na política - a gente mal pode protestar na rua! - a gente pode continuar nas ruas quanto tempo for que não adianta, no máximo vamos adiar o aumento um pouco e trocar as balas de borracha por gás lacrimogêneo.
pra ter passe livre: constituinte já!
por uma política sem catracas: constituinte já!
pelo fim da polícia militar: constituinte já!

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