segunda-feira, 28 de julho de 2014

carta a uma companheira II

Mulher,

Queria começar te agradecendo. Ser sua companheira - e companheira de tantas outras - faz minha vida ter muito mais sentido. Saber ainda que eu, com uma cartinha assim meio boba, meio mal escrita, cheia de lugares comuns, consegui traduzir um pouco em palavras coisas que você sente, consegui te ajudar, me fez muito bem.

Mas confesso que é um sentimento confuso. Ao mesmo tempo que me sinto bem por conseguir colocar em palavras as coisas que você sente, eu me espanto. Me espanto por descobrir - assim, sem querer mesmo - como são parecidas as coisas que a gente sente. E quantas mulheres sentem exatamente as mesmas coisas que nós. Me assusta o quanto o mundo pode ser terrível, violento, opressor. Me assusta o quanto quase todos os homens são verdadeiros babacas.

O que mais me assusta de tudo isso é perceber o quanto somos parecidas, e como eu nunca tinha percebido isso. Eu aprendi que eu era especial. E que ser uma menina - e depois uma mulher - especial significava ser melhor do que as outras. Aprendi que ser bonita significava ser mais bonita que as outras. Que ser inteligente era ser mais inteligente que as outras. Que ser sexy era ser mais sexy que as outras. Que eu não podia parecer com as meninas da minha idade. Que era melhor parecer mais mulher, mais velha. Durante dez anos (meu primeiro namoro começou com 13 anos de idade) eu sempre namorei caras mais velhos do que eu e mais de uma vez eu escutei que eu era especial porque eu não parecia uma menina da minha idade. E quantas as vezes na cama um cara, para me elogiar, disse que "nunca" uma mulher tinha feito aquilo tão bem...


Tenho uma sensação permanente que o mundo foi construído de um jeito que eu não consegui ser sua amiga. Sempre tive muitos amigos homens, em especial os mais velhos. Achava eles mais maduros, mais inteligentes, menos irritantes, menos fracos, menos frágeis, menos melosos e menos frescos do que qualquer mulher.

Como é que pode esse jeito de viver que a gente acha que tem que ser "melhor do que qualquer mulher"? Eu sempre pensei isso sem perceber o tamanho da perversidade. Eu sou qualquer mulher. Eu sou mulher, sou mulheres. Não sou pior ou melhor que nenhuma outra (pelo menos não por ser "mais mulher" ou "menos mulher" que ninguém). Quando, para nos relacionarmos com os homens nos afastamos, nos colocamos distantes, superiores, melhores que as outras mulheres, é um jeito também de negar nós mesmas.

Me neguei como mulher durante muito tempo, em diversos momentos da vida. Mas pior - ou tão cruel quanto - foi que neguei para você, mulher, a possibilidade de você ser tão boa quanto um homem. Tão forte, tão madura, tão inteligente, tão corajosa, tão especial quanto um homem. E também (acho que isso é o que me dói mais do que tudo) eu neguei a possibilidade de nós sermos iguais. Neguei a possibilidade de termos experiências parecidas, de termos dificuldades parecidas, de termos crises parecidas, de sofrermos de dor parecidas.

E é um absurdo! São tão parecidas as coisas entre nós. Você entende como nenhum homem pode entender o que é não ter coragem de falar, o que é não ter coragem de pensar. Você entende o que é a violência das cantadas, das passadas de mão, dos comentários, dos olhares, das propagandas de cerveja, das baladas universitárias. Você entende o que é se prender num relacionamento por medo de ficar sozinha. Você entende tanta coisa que poderia passar semanas fazendo listas.

E é muito solitário viver como se eu fosse a única mulher no mundo que sente as coisas que eu sinto. Mas ao mesmo tempo é difícil pra mim admitir que somos iguais. É uma coisa absurda, mas parece que minha auto-estima, minha confiança em mim mesma, só existe na medida em que eu inferiorizo as outras mulheres. Só tenho segurança se penso que sou uma mulher excepcional.

Mas acontece que eu cansei. Cansei de me sentir sozinha. Cansei de ser excepcional. Eu quero estar junto de você. Eu quero que minha força e minha coragem e minha auto estima surjam da força que eu sinto quando estou do teu lado, mulher.

Para isso eu preciso da sua ajuda. Eu tenho certeza que sozinha não vou muito longe. Posso até escrever uns textos bonitos, mas a prática (que é o critério da verdade) é muito difícil de construir. Preciso que você se esforce pra perceber que quero ser sua amiga. Que por trás dessa pessoa desajeitada e meio mal humorada que eu sou, existe também uma mulher bem parecida com você. Preciso que você me chame a atenção toda vez que sentir que eu te tratei mal, eu te inferiorizei ou qualquer coisa do tipo. Você sabe como esse mundo é perverso e ensina a gente a agir no piloto automático. Mas se você se incomodar comigo, me avise. Me avise mesmo que seja difícil, porque assim a gente aprende juntas. Me chame para sair. Vamos ver um filme, fazer uma comida, falar besteira e ser feliz. Me deixe cuidar de você, me conte seus problemas, peça ajuda. Fale as coisas que você pensa, as coisas que você quer. Me ajude.

Não posso prometer que vou acertar desde o começo. Não posso prometer que não vou errar. Mas posso prometer que vou te escutar. E posso prometer que se algum dia eu não te escutar, você pode me chacoalhar que não vou me incomodar, vou até agradecer. Mas acho que você não vai precisar me chacoalhar, porque cada vez que eu escrevo é meu jeito de dizer que precisamos escutar mais as mulheres. E eu também preciso.

Mulher, eu quero ser sua amiga. Eu preciso ser sua amiga. Eu preciso de você para ser melhor. Eu preciso de você para ser mulher.

Te amo, companheira.

ver o mundo

22.07.2014 - em belo horizonte

Ver o mundo
Parar e ver o mundo
Respirar fundo e ver o mundo

O mundo que acontece
As crianças que crescem
As relações que se estabelecem
O mundo

Ver o mundo
Parar e ver o mundo
Entender o mundo
Mais do que viver no piloto automático
Parar e ver

Para viver com mais consciência
viver com mais conhecimento
viver, vendo o mundo
é viver com mais prazer

Prazer de saber o que se faz
o que se constrói, o que se destrói
Ver o mundo
E escolher um lado.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

poesia para você

para M.

Você me pediu uma poesia
mas eu não me sinto poeta
eu grito, falo, esmurro
mas não sei construir com métrica
Você me pediu uma poesia
mas essa cidade
de asfalto, concreto e cinza
mas essa vida
de correria, trânsito e tarefas
faz faltar o ar
faz faltar o tempo
faz faltar a poesia
Você me pediu uma poesia
e eu, tão preocupada
com prazos,
com aparências,
com vaidades
não soube dizer:

a verdadeira poesia é você.

marighella

"É preciso não ter medo
É preciso ter a coragem de dizer" (Carlos Marighella)

Eu sei que é preciso não ter medo
Mas o medo vem
e é preciso enfrentá-lo

Por mim
porque, por mais que doa,
sou mais livre
(e mais feliz)
se vivo sem medo

E pelas outras
que por algum motivo
talvez sofram mais
ou tenham mais medo
ou simplesmente não saibam dizer
ou optem por não publicar

É por elas que eu escrevo
Porque com elas sou mais forte
Porque compartilhamos o mesmo medo
E juntas - só juntas - é que podemos ter
A coragem de dizer.

lado a lado

para W.

o que desejo para você
é que seus sonhos sejam possíveis
que você realize seus projetos
e possa curtir e cuidar
de todas as pessoas que você ama

e se rolar,
quero estar ao seu lado.
porque quero poder
correr atrás dos meus sonhos
fazer rolar meus projetos
curtir muito e cuidar com carinho
das pessoas que amo.

e se rolar
quero você ao meu lado
pra que a gente tenha
sonhos, amores e projetos comuns
sem deixar o de cada um
sem deixar cada um de ser um
isso é estar lado a lado.

quarta-feira, 16 de julho de 2014

dê um passo atrás

Companheiro,

dê um passo atrás
e me deixe ir na frente.

Se não por mim,
pela sua mãe
que fez sua comida, limpou sua bunda,
lavou sua louça, arrumou sua casa,
te deu carinho, te cantou cantigas, e se preocupa com você até hoje.

Se não por mim,
por Aparecida Gerônimo
que na periferia de São Paulo lutava por creche e saúde e foi surrada até a morte por um marido que devia amar e não bater,
por Maria Filipa
negra, bahiana, capoeirista, vedeta da praia que atacou portugueses a cipoadas defendendo seu povo,
por Maria Baderna
dançarina que teve coragem de dançar e usar seu corpo do jeito que quis, porque o corpo era dela e de mais ninguém.

Se não por mim
pelas trabalhadoras terceirizadas
pelas empregadas domésticas
por todas que ganham menos que os homens fazendo até mais trabalho
por todas que tem medo de voltar para casa à noite sozinhas.

Se não por mim
pelas que não puderam nem sonhar
e ficaram em casa cuidando dos filhos, maridos, netos e velhos
como uma sina sem fim
pelas escravas sem nome
que não podiam amar
e como coisa, eram estupradas como regra

Se não por mim
por todas violentadas, violadas, estupradas, assassinadas,
encoxadas, silenciadas, amedrontadas,
enganadas, machucadas.
(eu também sou elas)

Companheiro,
dê um passo atrás
e me deixe ir na frente.

Por mim, por todas, por você também.

domingo, 13 de julho de 2014

fazer gostoso

guia prático com 21 dicas para os homens que gostam de transar com mulheres livres

Quero te ensinar
a amar
mesmo que demore
a arriscar
Quero te mostrar
o prazer
desses que acontecem
devagar
Quero te fazer
companhia
dessas que fazem bem
todo dia
Quero te dar
carinho
te fazer sentir
menos sozinho
Quero viver
mais feliz
com o mundo e com você
ter mais tesão
Quero te libertar
da opressão
pra você ser mais bonito
sem pressão
Quero compartilhar
a contradição
e juntos construirmos
a revolução.

A CORAGEM DE DIZER

O sistema patriarcal e o machismo faz com que nós, mulheres, tenhamos vergonha de fazer e dizer as coisas que queremos e pensamos. Além disso, muitas vezes quando dizemos essas coisas os homens tem dificuldade de nos ouvir. Dificuldade de prestar atenção, de levar em conta e, inclusive, de lembrar das coisas que dizemos. Por isso resolvemos escrever.

Esse guia é feito por mulheres para homens, mas não desconsideramos as relações homoafetivas. A construção da afetividade e da sexualidade são importantes e contribuem para a felicidade geral, independente de se dar entre duas (ou mais) pessoas do mesmo sexo ou de sexos diferentes. No entanto, as relações hétero, que envolvem homem e mulher, envolvem sempre relações de poder. Relações de poder que fazem as mulheres terem vergonha, medo, timidez, que bagunçam muito as coisas, mesmo em relações bacanas. Relações de poder que fizeram muitos homens aprenderem a fazer sexo a fazer em filmes pornôs (e, amigos, esses filmes só ensinam coisas erradas pra vocês!) e fazerem muita besteira achando que estão arrasando.

Somos mulheres livres e gostamos de fazer gostoso. Temos nossas vidas, nossas escolhas, nossas vontades (e gostamos de fazer sexo!). Isso tudo muitas vezes faz com que os homens tenham dificuldade de se relacionar com a gente. Esse guia foi construído coletivamente por várias mulheres. Descobrimos, livres, que juntas temos mais força e mais coragem de dizer.

A PRIQUITA

No processo de escrever esse texto tivemos a dificuldade de encontrar um nome que nos agradasse para o nosso órgão sexual. Pense bem. Todas as palavras ou são científicas e frias demais, ou agressivas, depreciativas, vulgares. Debatemos muito e chegamos à conclusão que priquita (falada assim, como se escreve) é o nome que mais nos agrada. Porque é bonita, tem seu charme, e é livre como um pássaro voando. Livre porque nós somos livres.

Vamos às dicas:

1. CAPRICHE NAS PRELIMINARES

Não precisa ter pressa. A gente não vai fugir (até podemos fugir, mas com certeza não será porque você caprichou nas preliminares, aliás, as preliminares podem ajudar a gente a ficar mais). As vias de fato são parte gostosa e importante do processo. Mas não precisa correr pra tirar a roupa e meter como se sexo fosse só isso. Não é. Capriche. Use as mãos, a boca, a língua, a respiração. A pele é super sensível e está no corpo inteiro. Pode explorar à vontade. Nuca, orelhas, pescoço, barriga, costas, pernas, braços, pés, mãos, dedos... Os peitos, a bunda e a priquita também são partes muito gostosas de serem exploradas, mas não precisa ter fixação. (aliás, os bicos do peito não são botões pra vocês ficarem apertando eles de um jeito sem noção... pode apertar, mas com sensualidade!). O prazer acontece no corpo inteiro e você pode (e deve!) pesquisar, explorar, descobrir, e se deliciar com a gente!

2. PERMITA-SE SENTIR PRAZER

Percebemos que existe uma resistência da maior parte dos homens a sentir e expressar prazer. Você não precisa ter vergonha. Você pode sentir prazer e fica bem mais gostoso pra gente quando percebemos isso! Não tem nada mais broxante do que você lá, curtindo, se jogando, e o cara quieto, parado, no máximo franzindo a testa ou abrindo a boca. A gente sabe que você gosta quando a gente sente prazer, geme, grita, fala, aperta... A gente gosta também! Se solte! Gemer é bom! Gritar, apertar, falar, ser sensual, vale tudo! Você não é “menos homem” se for sensual. (Aliás, essa história de “mais homem” e “menos homem” é uma babaquice sem fim, nunca acredite nisso e sempre se questione quando pensar algo nesse sentido).

3. O PINTO ENTROU EM AÇÃO, MAS O CORPO NÃO É SÓ ISSO

Quando a penetração começar, você não precisa parar de usar as mãos, a boca, o corpo. Fica muito mais gostoso se estimulamos várias áreas ao mesmo tempo. Não precisa parar de beijar, lamber, passar a mão, segurar e todas essas coisas. A gente gosta. Não precisa ficar fixado no pinto e na penetração. A gente está ali e somos muito mais do que só nossa priquita.

4. TAMANHO NÃO É DOCUMENTO

A gente sabe que vocês tem uma paranoia com o tamanho do pinto. Mas vai a dica: o que importa, pra gente, não é o tamanho, mas é saber fazer gostoso. Tem quem tem um pinto bem grande e grosso e não consegue fazer grande coisa com ele (e às vezes até machuca!). Preferimos muito mais alguém que saiba usar. Pintos de todos os tamanhos, grossuras e formatos podem ficar deliciosos. Não precisa ter vergonha do tamanho, mas precisa ter vergonha de não saber usar.

5. CAMISINHA NÃO SE DISCUTE

Camisinha é sinal de respeito. A não ser que seja conversado antes, e esteja bem tranquilo para os dois, camisinha é regra. É muito broxante quando, no meio do rala e rola o cara vira e fala “só a cabecinha” (até porque, pinto não tem ombro pra colocar “só a cabecinha”) ou vem com aqueles argumentos estúpidos que é “igual chupar bala com papel”. A diferença é que uma bala sem papel não pode te engravidar, nem te passar um monte de doença. DSTs (mesmo as mais simples) são chatas, incomodam e não vale a pena. Se dê o respeito. Use camisinha. Compre (ou pegue no posto de saúde, é de graça) e leve com você. A gente leva com a gente sempre, claro, mas é muito mais gostoso quando percebemos que o homem se preocupa com isso.

6. SEJA SENSÍVEL

Fazer sexo não é colocar o pinto na priquita e ficar ali. Sexo é o encontro entre duas pessoas, uma das formas mais íntimas que pode ter de conhecer alguém. Se esforce para perceber as coisas que a gente está sentindo – e também as que você está sentindo!. Ser sensível é muito bom, e não te faz (de novo) “menos homem”. Ter sensibilidade é conseguir perceber os sinais, potencializar o prazer e também fazer carinho. Tudo pode ser muito mais gostoso se a gente joga junto.

7. NÃO É NÃO, PARE É PARE, TÁ MACHUCANDO É TÁ MACHUCANDO E TÁ GOSTOSO É TÁ GOSTOSO

A não ser que seja combinado de maneira explícita antes, quando a gente diz não é porque não quer. Quando a gente diz para parar você DEVE parar. Quando a gente diz que tá machucando você também DEVE parar. Parece meio óbvio falar isso mas pelas nossas experiências, infelizmente, não é. Tem muito babaca por aí que não consegue respeitar e ouvir as coisas que falamos durante o sexo. Preste atenção, não vacile, não vire um imbecil. Mas, por outro lado, quando a gente diz que tá gostoso é porque está mesmo gostoso, então continue, aproveite, explore!

8. BROXAR ACONTECE

Pode ser por que aconteceu alguma coisa, porque passou alguma coisa pela cabeça, ou porque simplesmente rolou. Mas às vezes a gente broxa, às vezes vocês broxam. Faz parte do sexo e não adianta nem pressionar nem ficar noiado. Vamos entender com mais tranquilidade isso, ser mais feliz, fazer uma gracinha, tomar um banho, mudar de assunto e depois a gente consegue continuar. Sem pressa, nem sobre o outro, nem sobre si mesmo.

9. PERCA A VERGONHA E AJUDE A GENTE A PERDER

Já falamos sobre a dificuldade que vocês encontram para demonstrar o prazer, para se desafiar a ser sensual. Mas a gente também tem vergonha, muitas vergonhas. Não é simples ser uma mulher livre. Muitas temos vergonha do nosso próprio corpo, por exemplo. O machismo é muito duro, e também é seu papel se preocupar com a superação das dificuldades. Ouça o que dizemos, faça um esforço para construir situações confortáveis, para elogiar a gente, pra ajudar a gente a também superarmos nossas dificuldades. Podemos ser mais livres juntos se formos mais sem vergonha.

10. SEJA CRIATIVO, MAS MULHER NÃO É BONECA DE PANO

Gostamos de experimentar posições diferentes. Ficar só no básico pode ser gostoso, mas experimentar é sempre uma aventura deliciosa. Podemos testar juntos para descobrir as posições que dão mais prazer para os dois. Mas não venha com o ideal filme pornô achando que nós somos acrobatas! Não dá pra você sair colocando a gente em posições malucas achando que a gente é boneca de pano. Tem coisa que nosso corpo não faz, ou que precisamos de um bom alongamento antes. Vá com calma, curtindo e prestando atenção nas respostas que damos.

11. LIMPINHO E CHEIROSO É MAIS GOSTOSO

Um cheiro de suor pode até ser excitante, mas é importante cuidar da higiene, em especial do seu pinto. Gostamos de chupar, mas não espere que a gente te chupe se não estiver limpo. Pode parecer meio obvio, mas chegamos à constatação que essa é uma dica importante. E não esqueça de lavar as mãos, manter as unhas limpas e de preferência curtas, para não machucar. Limpeza é gostosura, meninos!

12. DIÁLOGO É IMPORTANTE, ANTES, DURANTE E DEPOIS

Falar de sexo tem que ser mais normal. Sabemos que entre homens, vocês falam bastante sobre sexo. Mas podemos conversar mais sobre. Entre homens e mulheres que são só amigos e também entre pessoas que transam. Fazer sugestões, dizer o que gosta mais, o que dá mais prazer. Muitas vezes o diálogo não é somente com palavras, inclusive. Se colocamos ou tiramos sua mão de algum lugar, por exemplo, é porque estamos querendo dizer algo pra você. Faça um esforço para ouvir o que estamos dizendo, e para responder e falar sobre as coisas que você gosta e não gosta. Se fica mais claro, se a gente se conhece melhor, dá mais segurança e fica muito mais gostoso.

Falar sobre como anda a relação também é importante. Deixar claro se você quer só sexo, se quer se envolver, se está com medo de se envolver, se está gostando... A única coisa que não vale é fazer de conta que está a fim da gente pra conseguir transar e depois sumir sem avisar. Sumir sem avisar é sacanagem. Se você não está mais a fim, avise. É melhor do que não atender as ligações, não responder as mensagens e depois dizer que nós é que estamos paranoicas (porque no geral o problema é muito mais com vocês que não dizem o que querem ou sente). Diga o que você quer e não jogue com os nossos sentimentos.

13. INTIMIDADE É BOM, E NÃO SIGNIFICA QUE QUEREMOS CASAR

É consenso entre nós de que é melhor transar várias vezes com o mesmo cara do que transar poucas vezes com vários caras. E isso não acontece porque a gente se apaixona, quer casar e ter filhos. É porque a experiência, a construção de intimidade, permite que a gente tenha menos vergonha, que a gente se conheça mais, que nossos corpos se conheçam melhor. A paixão e o amor, é claro, podem acontecer (e a gente vai avisar se tivermos a fim). Mas querer transar com você com frequência não significa isso. Significa que queremos um sexo gostoso. A intimidade faz bem para o sexo e para as pessoas, e quem já experimentou sabe.

13. MULHER GRÁVIDA TAMBÉM TRANSA, E É MUITO BOM

Primeiro: a gravidez não é doença. Não precisa tratar as grávidas como se fossem um tipo diferente de mulher. E as grávidas também transam! A nossa experiência diz que as mulheres grávidas ficam mais sensíveis, e que o sexo fica muito mais gostoso. É claro que vale estudar posições que não fazem mal para o neném em desenvolvimento, mas pode transar e gozar, bastante! Vai por nós: o neném vai nascer bem mais feliz!

14. ESTUDE E PESQUISE

A formação é importante. O conhecimento do corpo também. O clitóris é um lugarzinho mágico que nos faz muito feliz, e se você estuda fica muito mais fácil de saber onde fica e não confundir com outras coisas (sim, tem cara que confunde). Mas ao mesmo tempo, não é porque o clitóris existe que ele é um botão mágico do prazer. Não é pra ficar apertando! Tem que ter jeito, sensualidade e prazer. Pra conhecer melhor o clitóris, sugerimos esse vídeo ( https://www.youtube.com/watch?v=Wmcu2mYZdRY ). Mas pesquise! Tem muito material por aí que fala sobre o prazer feminino. E, como a pesquisa deve ser teórico-prática, pode pesquisar nos nossos corpos, que pode ser muito gostoso!

Vai mais uma dica: não queremos mercantilizar nossas relações, mas motel e sexshop são duas criações humanas que podem potencializar o prazer e vale a pena investir. O motel nos permite gritar (e não vai ter ninguém no quarto ao lado achando estranho) e experimentar coisas bacanas como banheira de hidromassagem, espelhos, cadeira erótica... E o sexshop pode ser um bom lugar para descobrir alguns acessórios e elementos que podem ajudar a apimentar a relação. A gente gosta de decidir junto o quarto do hotel e ir junto para comprar as coisas no sexshop, mas também adoramos dar e receber presentes, surpresas. Uma dica final: o anel peniano vibratório tem sido altamente indicado e nos faz muito feliz. (se você não conhece, já pode começar sua pesquisa descobrindo o que é)

15. NÓS TEMOS PÊLOS SIM

Tem as mulheres que se depilam, tem as que não se depilam. Mas os pelos crescem e muitas vezes na correria da vida não conseguimos nem ter tempo para ficar do jeito que gostaríamos. Como cuidar dos nossos pelos, assim como nosso corpo, são decisões nossas. Você se incomodar ou reclamar dos nossos pelos é você simplesmente ser um babaca. É claro que você pode falar das coisas que você prefere, mas desde que role intimidade o suficiente e que você saiba falar disso sem nos pressionar. Nossa análise diz que os caras mais legais se preocupam mais com nós sermos quem a gente quiser do que nos enquadrarmos nos seus padrões de beleza. Entre nós, achamos que pelos demais podem atrapalhar no sexo oral... mas se vale para os nossos pelos, vale para os seus também. Apare os pelos, até pra gente se aventurar por toda a área... vai valer a pena.

16. SEMPRE DÊ UMA MÃOZINHA

Parece meio repetitivo, mas achamos bom destacar: você sempre pode usar a mão. No sexo oral, a mão pode acompanhar. Ajuda a abrir caminho ou provoca outras regiões. No processo da penetração (nas posições em que for possível, não precisa fazer malabarismo) a mão pode estimular o clitóris, que dá um tesão muito gostoso. O prazer que sentimos é muito maior quando somos estimuladas de várias maneiras ao mesmo tempo. Dê uma mãozinha pra gente.

18. ADORAMOS MASSAGEM

É sério. E massagem pode ser muito sensual. Precisa aprender também, porque requer técnica. Não pode apertar só com a ponta dos dedos, pode usar a mão inteira, caprichar, explorar os corpos, usar seu peso, sua força. Nos ajuda a relaxar, nos ajuda a ficar mais soltinhas (o que contribui para o sexo) e nos deixa feliz. Façam massagem, a gente adora.

19. A POLÊMICA DO CU

Algumas coisas importantes para vocês saberem: as mulheres gostam de sexo anal, se ele é bem feito. Mas se você tiver fixação por isso, e ficar forçando a gente a fazer é muito babaca (e infelizmente, muito comum também). E tem mais: sexo anal não é simples, é um processo muito delicado e pode machucar. Se você for fazer, vá com calma. O cu não é igual a priquita. Não entra do mesmo jeito, não lubrifica do mesmo jeito e não é pra você fazer do mesmo jeito. Mas se for com cuidado, carinho e respeito pode ser uma delícia. Aliás, nós achamos que vocês deveriam se soltar. Vocês podem também sentir muito prazer com estímulos no cu e por toda a área, mas são muito preconceituosos. Nada disso te faz “menos homem” e a vergonha e o medo de experimentar coisas que podem ser gostosas também é uma expressão do machismo. Permitam-se experimentar, vale a pena.

20. OS DOIS PODEM GOZAR. SE FOR JUNTO, MELHOR.

Pra começar, avise antes de gozar. É muita sacanagem não avisar. É como se no meio do jogo de futebol um time desistisse de jogar, sem nem avisar antes, saísse de campo e levasse a bola embora. Vocês costumam se focar muito na penetração, ir aumentando a velocidade da fricção e gozar. Vá com calma! Ficar mais tempo transando é muito gostoso. Parece que vocês não sabem, mas a gente pode gozar e continuar transando (inclusive gozando mais de uma vez), enquanto vocês normalmente precisam de um tempo para tomar fôlego.

Você pode ter conhecimento sobre o seu corpo suficiente para conseguir saber que está chegando perto de gozar a ponto de poder evitar que aconteça naquela hora. Você pode avisar, a gente muda de posição (vale a pena respirar fundo, pensar em alguma coisa aleatória para acalmar os ânimos) e continuar. Tenha calma, espere a gente gozar, ou pelo menos pergunte (a tempo de parar) se você pode gozar. Se você fica mais tempo, aumenta a chance de a gente gozar. Aliás, quando a gente goza, também estimulamos você. Fazemos pressão, pulsa, lubrifica de um jeito muito gostoso que pode até te fazer gozar... junto! E não tem nada mais delicioso do que gozar junto.

21. CAIA DE BOCA

Nós gostamos de sexo oral. De fazer e receber. Mas é indiscutível que todas nós fazemos muito mais sexo oral do que recebemos, e não temos dúvida de que isso faz parte de uma cultura machista na cama. Não tenha nojo, não tenha preguiça, não pense só em você, caia de boca.

Sexo é uma delícia, e ser uma mulher livre significa que a gente também pode gostar de fazer e isso não é um problema. Mas acreditamos que se é feito de igual para igual, se nos esforçamos coletivamente para superar o machismo que existe na cama, ele fica muito melhor. Pra isso não tem que saber dialogar, tem que se desafiar, tem que perder o medo e a vergonha. É assim que a gente se liberta junto, é assim que a gente transa junto e é assim que a gente goza junto. Faça gostoso.

sábado, 12 de julho de 2014

Penso-sinto

Eu queria dizer tudo que sinto
Assim, desaforada, gritar meus sentimentos
Não louca e desproporcional,
Mas sábia, no lugar certo.

Dizer o que sinto sem medo, sem meias palavras.
Sabendo que serei escutada
Menos nos despropérios
Mais na sabedoria que existe no sentimento

Me cansa esse saber
Que precisa ser fundamentado em teorias
Mas que não aceita o coração
Não aceita o toque, o arrepio da pele
Não aceita o coração que pulsa
Como argumento válido, importante

O que eu sinto
É também o que eu penso
Mas colocado em outras palavras
Baseado menos no que eu li
Mais no que eu vivi e senti
Menos nos teóricos,
Mais nos poetas, cantores, artistas

Assim, como toda arte
Talvez meio exagerado
Meio sentimento que explode
Que assume métricas menos formais
Raciocínios que se explicam
Sem introdução, argumentação e conclusão
Mas como poesia que gira, que grita, que faz um sentido menos racional, menos óbvio...

Mas que ainda sim é a verdade.

Verdade falada
Verdade sentida
Realidade.

Só assim sei dizer o que penso-sinto, sem formalização desnecessária.