quarta-feira, 29 de outubro de 2014

da beleza e da feiúra que tem a democracia

é bonito sim.
saber que a cada quatro anos todas e todos os brasileiros podem ir às urnas e apertar as teclas e definir seu voto. e que nesse momento o futuro do país é definido e que o voto de uma empregada doméstica vale o mesmo que o voto de um bilionário branco nascido em berço esplêndido.
é bonito sim.
saber que quem escolhe o futuro da nação não é uma ou outra pessoa, não é quem tem mais poder, mas é o todo. todo mundo que vai até a urna e digita um número ou outro e que contribui para determinar quem é que vai ganhar essas eleições.
é bonito sim.
saber que em um dia, em um acúmulo de poucas horas, são milhões e milhões de brasileiras e brasileiros (e vejam, é no mesmo dia, espalhados por todo o país) saem de suas casas e pensam e se deparam com a questão "qual é o futuro que quero para meu país?" e é gente que pega barco e é gente que vai a pé. e é gente que sai de uma casa que fica no sertão seco ou no meio da amazônia ou numa cidade grande e caótica e pega trânsito e bate o carro mas mesmo assim vai. e é gente que vai com filhos. e é gente que vai com os pais. e é gente que encontra na sessão eleitoral um amigo de longa data que só encontra a cada dois anos, sempre. e é gente que prefere ir pra praia ou dar migué mas que mesmo assim sabe que naquele dia está deixando de fazer o que milhões estão fazendo. e é gente que viaja centenas de quilômetros para apertar uns botões. e é gente que escolhe a roupa, a cor do sapato, do esmalte, do batom. é gente que se enche de adesivo ou não que acha isso importante ou não que decide na última hora pegando um papelzinho no chão ou prepara uma colinha com os números ou inventa ou anula ou sabe de cor. de coração.
é bonito sim.
porque ajuda a gente a entender que fazemos parte da história e do futuro do país e das escolhas. porque a beleza da democracia está no fato de que o povo como um todo é que tem o poder e que participa das escolhas. e que com certeza estamos em uma situação muito melhor do que há 25 anos atrás quando eu nasci e isso era uma novidade.

mas é feio também.
porque não conheci o que era mais feio e veio antes disso, porque quando eu nasci já era assim.
porque essa democracia que é tanto para os que vieram antes e viveram a vida sem ela é muito pouco, muito muito muito pouco para o que eu quero.
porque é limitada. porque a política não pode acontecer na vida de uma pessoa comum apenas a cada dois anos.
porque ninguém aguenta mais os políticos que só aparecem a cada dois anos, que só entregam obras a cada dois anos. que só falam das coisas que precisam mudar e precisam melhorar a cada dois anos.
porque ninguém acredita mais no amor daquele que pega o bebê no colo hoje para tirar foto e amanhã esquece porque precisa nomear secretários e ganhar dinheiro e etc.
porque por mais bonito e romântico que seja esse papo de uma pessoa um voto o poder da mídia e das grandes empresas financiadoras de campanha é mais forte do que o poder dos movimentos e das organizações livres e de qualquer paixão e de qualquer projeto político e isso dá náuseas de tão nojento.
porque é tanta vaidade, tanto personalismo, tanto jogo de interesses, tanta falsidade, tanta vida vivida de aparência, tanta impossibilidade de se dizer o que se pensa, tanto disputismo que chega uma hora que o projeto, a política, os sonhos, os ideais são só perfumaria, são só a cor da gravata, são só um slogan mais bonito, e o resto é tão parecido tão igual que fica difícil saber o que é melhor.
é feio.

a beleza que a democracia tem, de fazer-nos todas e todos iguais, de possibilitar à todo o povo o debate sobre os rumos do país é o que faz com que eu me apaixone por ela. é o que faz com que eu tenha certeza que tô no caminho certo: o princípio de que todas as pessoas tem o mesmo valor.
e eu acredito nisso com todas as minhas forças: todas as pessoas (e quando falo todas é TODAS mesmo sem faltar nenhuma) têm o mesmo valor. sabe aquelas pessoas que passam a vida mostrando para as outras que são mais importantes? esfregando na cara dos outros o "você não sabe quem eu sou"? vivendo uma vida cheia de servos, serventes, serviçais? poizé. na democracia ela vale igual.

a feiúra que a democracia tem é que isso só vale um dia. e mesmo nesse dia vale pouco, porque tem gente que detém os meios de comunicação, e detém a grana que compra panfletos e toda uma máquina de cabos eleitorais e boqueiros e crianças que fazem aleluia com panfletos nas portas das escolas. a feiúra que a democracia tem é que ela é pouco democrática e que democracia de verdade se faz quando o povo pode participar e quer participar e debate política e entende que sua vida é influenciada pela política do país todos os dias.


a geração dos meus pais construiu a democracia. a geração dos que lutaram contra a ditadura, dos que fundaram o PT. essa geração deu o primeiro passo para a democracia em nosso país. mas essa geração (com todo respeito, com toda admiração e com todo amor que tenho por ela) envelheceu. essa geração entrou na lógica da democracia que ajudou a construir.

mas a nossa geração não. nós nascemos e isso já estava aí. crescemos com o PT já no governo.

vou te dizer: a gente acha é pouco.

porque a gente quer mais. mais democracia. mais participação. mais política. mais condições de influenciar no futuro do país.

e agora é hora de aprofundar a democracia do brasil. é hora de uma constituinte exclusiva e soberana do sistema político. é hora de plebiscito. é hora de participação popular. é hora de um novo ciclo de mudanças no brasil, de uma nova geração.

não porque os deputados decidiram.

mas porque as ruas gritam. porque a juventude não quer viver um mundo do passado. porque o povo quer o que lhe pertence.

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