quinta-feira, 19 de junho de 2014

privilégios

E quando eu me cansar e a tristeza ou a preguiça ou até mesmo a dor me quiser refém me quiser enferma sem forças, na cama inerte Vou me lembrar dos privilégios da geladeira sempre cheia das aulas de artes e línguas dos livros nas estantes da cama e dos lençóis macios Que fizeram de mim quem sou muitas coisas boas mas não essa auto-piedade não esse cansaço fácil não essa falta de calos E vou me lembrar do povo que produziu minha comida e nem sempre teve a geladeira cheia que passou meus lençóis e só voltava pra casa no final de semana Das mulheres negras empregadas domésticas a quem devo tanto e que nunca se cansaram porque não tinham tempo porque não tinham o direito Meus privilégios são uma dívida com meu povo. E até que ele tenha geladeira cheia, livros nas estantes camas quentes, lençóis macios e toda a sorte de privilégios que eu tive Eu não posso me cansar Porque o povo explorado construiu meus privilégios e nunca descansou. Por que eu descansaria?

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