segunda-feira, 29 de setembro de 2014

saia justa?

Na última quinta fui convidada para representar a sociedade civil na instauração da comissão da verdade da prefeitura de são paulo.
Falei o que acredito: que a ditadura deixou legados que afetam profundamente a vida da juventude do presente.

Falei da polícia que mata a juventude pobre e negra todo dia, que só no estado de São Paulo, a PM mata mais de duas pessoas por dia. Claro que citei a declaração do Haddad porque não podemos aceitar que ele faça declarações desse tipo. Porque é errado e é irresponsável. Hoje coronel telhada, na câmara municipal, responde à qualquer acusação de direitos humanos dizendo que é "um casa isolado".

Mas falei também do conservadorismo, porque quem chamava de subversão pílula anticoncepcional e camisinha são as mesmas pessoas que acham que homossexualidade é doença e fazem o brasil ser um dos países mais assassinos de lgbts; são as pessoas que acham que a mulher não tem direito de decidir sobre o próprio corpo e não permitem a legalização do aborto, preferem deixar as mulheres morrendo nos procedimentos clandestinos.

Falei do sistema político que existe, construído que foi pela ditadura que mantém as grandes empresas com muito mais poder do que o povo. E que a única forma de superarmos os legados da ditadura é com uma Constituinte exclusiva e soberana do sistema político.

E falei também do monopólio dos meios de comunicação, das famílias que atuavam junto com a ditadura criando uma narrativa sobre a história que escamoteava, camuflava e escondia toda a violência, toda a opressão, toda a corrupção e todo o absurdo que rolava e ainda rola, porque ainda são essas mesmas famílias que dizem o que é verdade hoje no nosso país. Falamos da folha de são paulo que emprestava automóveis para transportar presos e corpos assassinados pelo regime.

A "saia justa" é pro Haddad, que tem que melhorar as declarações que faz (e também ir conhecer de verdade a operação delegada, que não é nada disso que ele diz que é).

Mas a "saia justa" é pra folha também, que adora falar mal do PT mas não reconhece os absurdos praticados por ela mesma. Até o Haddad (quando respondeu à minha provocação, na fala dele na cerimônia) disse que a declaração dele foi distorcida pelos meios de comunicação, e que não dá pra acreditar no que se lê nesses jornais.

Foi engraçado: depois que acabou tudo, o repórter da folha veio logo me perguntar "o que você achou da resposta do prefeito?" Eu respondi: "olha, eu discordo da análise dele sobre a operação delegada, mas eu acho que ele tá certo: a grande mídia distorce a realidade"

PS: a cerimônia foi linda e é fundamental uma comissão criada no formato da Lei, composta por gente muito comprometida e guerreira. uma comissão que vai ter condições de vasculhar a fundo o que a prefeitura fez nos anos de chumbo. disso a folha não fala.

PS2: esse texto foi originalmente publicado no facebook, sem título. fiquei quebrando a cabeça aqui pensando em um título, e acabei colocando mais ou menos o mesmo que a monica bergamo (que escreveu a coluna da folha). mas aí fiquei pensando sobre esse termo "saia justa" (ele já me incomodou quando postei isso no face, por isso tinha colocado as "" nele, mas agora que tô no blog e as pessoas só vão ler até aqui se quiserem muito me permito uma tergiversação). eu não acho saia justa um problema nem uma vergonha. acho que é normal a pessoa querer usar uma saia justa e me incomoda o fato desse termo ser usado como uma forma de dizer que a pessoa passou por uma situação difícil. conheço uma porrada de mulher que arrasa na saia justa e não deixa isso ser dificuldade nenhuma. (não sei se esse comentário faz muito sentido, mas quis fazer mesmo assim).

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