sábado, 6 de setembro de 2014

venho dizer que falhei

venho à público nesse domingo de sol dizer que falhei.
que minha capacidade se extingue e que todos os dias parecem segundas feiras chuvosas em que nenhuma vontade, nenhum motivo, nenhuma obrigação tem mais força do que a dor e a solidão de ficar na cama.
que meus planos mirabolantes foram todos frustrados por falta de persistência, por falta de organização, por falta de capacidade, por excesso de planos.
que meu medo de falhar tem me feito falhar cada vez mais.
que tenho me retirado propositadamente dos lugares em que vocês me colocam.
que  os sonhos que preguei do amor, do companheirismo, da solidariedade, tenho pregado muito mas sentido cada vez mais dificuldade em viver.
que enfrentar as contradições tem sido por vezes tão contraditório que me perco no meio de um turbilhão.
que construir identidade e vontade e vida própria e independente talvez seja muito mais difícil, e doa, e chore e não dê conta sozinha.
e que na verdade não me sinto superior à nenhum de vocês, me sinto inferior, me sei inferior e eu só queria era um pouco de carinho e atenção e isso parece que não existe, que vocês não enxergam essa palavra
que eu não sei dialogar sem provocar, sem estranhar, sem me sentir inferior constantemente.
porque as críticas dirigidas à uma mulher são muito diferentes das críticas dirigidas à um homem
e que a dureza, a determinação, a violência, a força, a sexualidade, o espírito protagonista, a vontade de ser sujeita da própria história incomodam quando é uma mulher, quando é homem não.
que mesmo me sabendo incompleta tenho errado e cada vez mais tenho errado tenho esquecido e falhado.
que tenho repetido que sou mulher tantas vezes que as pessoas desconfiam e acham que eu exagero, e que parece exagero, utilização política (!) de uma coisa que é pessoal ou não existe (?).

venho à público dizer  que falhei.
e que se quiserem podem cortar minha cabeça, me machucar, me bater, ficarem putos, gritarem, me desautorizarem, discordarem.

venho à público dizer que falhei.
mas por favor não permaneçam em silêncio quando sabem que esse silêncio mata. O SILÊNCIO NÃO É UMA CRÍTICA CONSTRUTIVA, ele não educa. ele enlouquece.

venho à público dizer que falhei.
e talvez eu precise que alguém me dê a mão, me procure, me chame pra sair.

venho à público dizer que falhei.
porque afinal de contas nós somos muito parecidas.

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